O Peso do Pássaro Morto
- Julia Moura
- 7 de jun. de 2021
- 2 min de leitura
Autor (a): Aline Bei
Estrelas: 10/10

Esse entrou no TOP 5 dos meus livros favoritos!
Aline Bei é uma escritora brasileira. Após ganhar o Prêmio Toca, criado pelo escritor Marcelino Freire, escreveu em 2017 seu primeiro romance, O Peso do Pássaro Morto.
A morte. Nos preocupamos tanto com a morte física, que faz parte da lei da vida, que não damos atenção a morte que acontece dentro de nós diariamente, e que poderia/deveria ser evitada.
É isso que Aline conta para gente em O Peso do Pássaro Morto: a morte "nos mata" todos os dias.
No livro, acompanhamos a história de uma mulher sem nome, com especial atenção a determinadas idades da protagonista, dos seus 8 aos 52 anos.
São nove capítulos, todos intitulados com a idade da personagem no momento do relato – 8, 17, 18, 28, 37, 48, 49, 50 e 52 anos.
O mais legal é que em cada etapa, o texto está escrito de acordo com a idade dela. Por exemplo, no primeiro capítulo fica claro que uma criança escreveu.
Diante da tristeza, da solidão e das perdas que são particulares da personagem, e que ela tem que lidar com problemas relacionados à condição de ser mulher (como a violência sexual, a maternidade e a reflexão acerca do aborto) e de ser quem é como indivíduo singular, ao mesmo tempo, sua trajetória poderia ser a de qualquer um de nós.
"Entendendo que o tempo sempre leva as nossas coisas preferidas no mundo e nos esquece aqui olhando pra vida sem elas."
É uma leitura pesada, com traumas enormes e qualquer um de nós estamos propensos a viver (especialmente as mulheres).
Isso é claro no momento após o que aconteceu em sua vida, especialmente aos 17 anos anos, a transformou do “quem eu sou” para o “o que aconteceu comigo”.
Sonhos deram lugar aos traumas, uma vida resumida em consequências desastrosas da violência, do desrespeito, do silêncio e da vergonha. E no fim, a pergunta que vem na orelha do livro: quantas perdas cabem na vida de uma mulher?
O acontecimento aos 17 anos a transforma num corpo incapaz de amar ao filho, desejar sexualmente um homem ou seguir sua ambição profissional.
"As mulheres abusadas nas trincheiras e nos viadutos, não estão nos livros de história. Os ditadores sim, todos em itens numa longa biografia."
O romance fala sobre: perda. Quando digo perda, não só perdermos alguém ou algo, mas, principalmente, perdermos a nós mesmos, a nossa inocência, a fé e a esperança.
Um livro lindo e doloroso.
Ela não teve culpa. Mas também não teve apoio.
Em caso de violência sexual, denuncie: 180 (Disque-Mulher) 190 (Polícia Militar)!
Você não está sozinha.
Comments